Sábado, 15 de Setembro de 2007

Psicólogos dizem que perfil de Kate é "pura especulação"

Tudo o que se possa dizer sobre o perfil psicológico de Kate e Gerry McCann, com base apenas no que aparece na imprensa e na televisão, é "pura especulação". O público poderá sentir a tentação de avaliar gestos, choros, emoções que ajudem a perceber quem são, de facto, aquelas pessoas. Mas os psicólogos só o fazem com base em consultas, olhos nos olhos, e usando marcadores científicos com índices quantitativos.

"É preciso ter em linha de conta o contacto pessoal com o indivíduo e a forma como vive (pelo que nos conta), mas também a avaliação mais objectiva: o perfil cognitivo, baseado em parâmetros como a atenção, inteligência ou memória; e o perfil de personalidade, a forma como se relaciona com o mundo", explica ao DN Paulo Sargento dos Santos, psicólogo e professor da Universidade Lusófona.

Ainda que, no caso de Kate e de Gerry McCann, os técnicos possam "ter algumas impressões" a partir do que vêem ou lêem, é preciso não esquecer que todos os seus actos públicos são "trabalhados do ponto de vista da comunicação".

"É um erro extrapolar perfis" a partir disso, fez questão de acrescentar o especialista.

Paulo Sargento dos Santos recorda que os pais de Madeleine contrataram assessores de imagem e, portanto, "o que vemos é fabricado, não são eles próprios".

Para o exterior, Kate tem-se mostrado muito mais frágil do que o marido. "Mas naquela entrevista aos espanhóis, por exemplo, Gerry desestruturou-se e ficou transtornado, ao passo que Kate, a mais 'certinha', conseguiu dominar a situação", lembra.

De acordo com a psicóloga Helena Marujo, tentar estabelecer um perfil neste tipo de circunstâncias só poderá resultar em apreciações "muito interpretativas e subjectivas, ou seja, sem a objectividade que uma questão destas merece".

Rui Abrunhosa Gonçalves, psicólogo especialista em assuntos de justiça e violência, vai ao ponto de advertir que "é uma tontice tirar ilações a partir de expressões faciais, isso é completamente inadequado e muitíssimo perigoso".
DnOnline 14/09/07
PAULA LOBO
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publicado por arco íris às 00:03

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Sexta-feira, 14 de Setembro de 2007

A ESTRANGEIRA

Neste momento - aquele em escrevo este texto -- não existe qualquer acusação formal contra Kate McCann, quanto mais uma condenação. Isto significa que tenho de a considerar inocente e de a tratar de acordo com isso. A suspeita que impende sobre ela - matar uma filha e esconder o seu corpo - é suficientemente atroz. Não precisa de ser apimentada com elucubrações sobre a sua capacidade de emoção, a rigidez dos músculos da sua cara, a presença ou ausência de lágrimas face às câmaras, o carinho que manifesta ou não aos filhos gémeos quando rodeada de flashes, como se estivéssemos a apreciar o desempenho de uma actriz de novela ou de uma concorrente do Big Brother. Não precisa - não pode, apetece dizer, mas para quê, se não há modo de o impedir - de ser transformada num linchamento moral, emocional e, pasme-se, psiquiátrico (como o que inacreditavelmente ocorreu no Prós e Contras), perpetrado em tudo o que é jornal, revista, TV e café do país. Não precisa de ser transformada num match Portugal-Inglaterra, num nós contra eles, num acerto de contas do pequeno país complexado com a arrogante Albion. E, sobretudo, não precisa de ser, mais uma vez, a demonstração, até ao vómito, da absoluta inanidade de um segredo de justiça que não impede que todos os dias haja novas "fugas" do sistema judicial para os media e que se tenha chegado ao ponto de poder ler, na imprensa, passagens do diário de Kate McCann.

Numa altura em que tanta gente brada contra um novo Código de Processo Penal que impede aos jornalistas a transcrição de conversas telefónicas contidas nos autos de um processo público, e se apela à "desobediência civil" em nome da liberdade de informação e, naturalmente, da superior capacidade dos jornalistas de avaliar o que deve e pode ou não ser publicitado nos media e de pesar o que é ou não susceptível de justificar, pelo interesse público, a lesão dos direitos individuais, é interessante constatar como se divulgam, sem um arrepio, os escritos íntimos de Kate McCann. De como isto sucede sem que os responsáveis da PJ e do Ministério Público tomem qualquer atitude - o que os torna cúmplices formais do linchamento, juntando-se a gente tão ilustre como o papa que, tão rápido a associar-se à campanha "find Madeleine", se desvinculou pela calada, com assinalável espírito solidário.

"Para que me sinta menos só, resta-me desejar que haja muitos espectadores no dia da minha execução e que me acolham com gritos de ódio". A reflexão final do protagonista de Camus, O Estrangeiro acusado de ter morto um árabe que é condenado à morte por não ter chorado no enterro da mãe, surge como legenda perfeita para as imagens de Kate McCann de cabeça erguida sob os apupos. Desenganem-se aqueles que pensam que, se ela for culpada, tudo isto se justifica. Como o antropólogo Bruno Sena Martins no seu blogue (http/avatares-de-desejo.blogspot.com/), também eu "quase desejo que aqueles pais sejam culpados para não estarem inocentes a sofrer tudo isto."
Dn Online 14/09/07
Fernanda Câncio
jornalista
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publicado por arco íris às 21:54

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